domingo, 23 de outubro de 2011

Entre senhores e porcos

A noite é fria e seus pés gelados se entrelaçam acompanhandoo balanço da rede. Dali, de seu apartamento, Lázaro observa a chuva caindo lentamente pela janela, deixando entrar um vento frio e úmido. As gotas , como um ritual sagrado regido por maestros ocultos, o hipnotiza com seus cânones perfeitos e o faz pensar. O cigarro, esquecido, queima lentamente em seus dedos. Nem sua fumaça faz ele voltar para o mundo real. Sua mente anda longe dali.




Sonhos.

Projetos futuros.

Metas profissionais....


Envolvente como o vinho, se enbebedava aos poucos com a doçura da ambição oferecida solenemente
pelo atual sistema ao qual é contemporâneo.

O Sistema.

Mal sabia Lázaro que os porcos são criados para o abate. O sistema que o alimenta com a lavagem de um padrão de vida idealizado como sagrado, para , através disso usurpar dele toda carne disponível em si, todo seu esforço. Intelectual, físico, sentimental.
Esse era o sistema em que ele se envolvia. O mesmo que o ensinou os rótulos e padrões desde sua infância. Que gerou seus sonhos e cobrou dele resultados. Mas não para maior benefício prório. Não gozaria de seu esfoço e inteligência adquiridos ao longo da vida. Os venderia a troco de uma "comida para engordar porcos": um salario que o manteria acomodado; uma moeda de prata para cada ano de sua vida. Trinta talvez. Moedas que pagariam, na verdade, o mesmo alimento dos burgueses gordos donos de todo esse chiqueiro. Porcos. Eles se alimentam de tudo que os porcos possuem. 

Até que chega o dia do abate. 

Até que Lázaro pare de produzir e não tenha mais nenhum valor para eles.


Até lá, ele apenas ouve o som da chuva e deixa o cigarro queimar, só em seus dedos, enquanto o vento frio o traz esperança e  o faz pensar estar planejado um futuro préviamente estabelecido em seu subconsciente :
 
O faz escolher ser uma engrenagem a mais, escolher uma função para exercer  no meio disso tudo a troco de suas míseras moedas de prata.  O faz decidir qual o tipo de lavagem usará para se engordar. O fará determinar qual gosto terá sua carne no prato daqueles que o alimentou.

A menos que se torne um deles, que se ceda ao sistema e construa chiqueiros, para extração, consumo, e abate.

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